POSSÍVEIS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL PARA OS SÍTIOS
PRÉ-HISTÓRICOS DE CORGUINHO E AQUIDAUANA COM BASE NO MODELO DO DISTRITO DE
PORTO CAIUÁ – NAVIRAÍ – MS
O presente trabalho tem como objetivo central a apresentação de
modelos de educação patrimonial para dois abrigos sob rocha, com materiais arqueológicos
e pinturas rupestres, nos municípios de Corguinho e Aquidauana – MS. Estas
descobertas, embora casuais, permitiram a construção
desse trabalho e empreenderam diversas fases de pesquisa como a visita técnica,
o contato com os objetos e pinturas rupestres, análise geográfica dos locais em
campo e dos processos burocráticos necessários para que os materiais e os
locais naturais usados como moradia por grupos caçadores coletores e ceramistas
agricultores se tornem parte do patrimônio cultural de MS, e que estes sejam
reconhecidos e protegidos pela União.
Possíveis ações de educação patrimonial para os sítios
Pré-Históricos de Corguinho e Aquidauana com base no modelo do distrito de
Porto Caiuá – Naviraí – MS
O objetivo desse texto é demonstrar ações de educação patrimonial,
com base em sítios arqueológicos Pré-Históricos, que possam ser aplicadas nos
municípios de Corguinho/Aquidauana. Há no Brasil uma carência significativa no
que tange ao patrimônio e práticas efetivas da conscientização das comunidades
entrono de locais de história. A partir de 1988 o conceito de Patrimônio irá se
ampliar, e mais tarde com o estabelecimento de ferramentas de preservação
ao material e imaterial como também ao que remonta ao processos de inventário e
registros, irão encontrar primeiras normativas como o Decreto 3.552 de 04 de
agosto de 2000, que implementa ações educativas e ressaltam a importância e a
preservação das heranças culturais, essa que projeta aos órgãos então
responsáveis a abarcar o desenvolvimento como o atributo da gestão do
patrimônio cultural.
Com a Lei Federal n°3.924 de 26 de julho de 1961, que já nesse
período de voga do pensamento no que tange a reafirmação dos objetos ligado a
cultura nacional que irão dar ênfase aos monumentos arqueológicos e
pré-históricos, e sobre essa normativa irá regulamentar a guarda e a proteção
dos bens. Nessa conjuntura o estudo arqueológico começa a se projetar em
relação ao patrimônio.
Segundo Magalhães (1981) novas mudanças iriam se iniciar a partir
de 1981, com a Secretária de Cultura que a disporia de duas subsecretarias que
tratariam de assuntos ligados a cultura e a outra ao patrimônio artístico
nacional. A imprensa nesse período já discutia que era necessário criar um
Ministério da Cultura, o que também na visão de Magalhães não era viável a
divisão nesse período, de cultura e educação, era necessária o incentivo para
estreitamento entre as duas.
“Por enquanto, em nosso país, não se pode divorciar cultura e
educação, mas muito ao contrário, é necessário incentivar o estreitamento das
relações entre as duas áreas, em virtude do papel primordial que o processo
cultural desempenha no educacional, na medida em que uma educação desprovida do
seu contexto sociocultural não passa de mera técnica sem grande utilidade ou a
serviço da progressiva perda de identidade nacional. Não há desenvolvimento
harmonioso e nem se faz uma nação forte se, na elaboração das políticas
econômicas do país, não são levadas em consideração as variáveis culturais e o
papel que aí desempenha o sistema educacional”. (MAGALHÃES,1981, p.2).
Nessa perspectiva ligar as E.Ps com a educação pode alcançar
grandes patamares, apesar da dificuldade de recursos e investimentos na área de
educação patrimonial, há possibilidades viáveis de inserção em diversas esferas
da comunidade.
Figura 1: Diagrama referente ao uso educacional do Patrimônio Cultural Fonte: adaptado de Horta et al., (1999)
Então a partir de Horta (1999), verifica-se que essa metodologia
incita aos professores a utilizar os próprios objetos culturais, como “Fonte de
informação sobre a rede de relações sociais e o contexto em que foi produzido”.
Logo as ações a serem desempenhadas nos locais onde se encontraram tais
achados se misturam na amalgama dos objetos culturais nesse caso a arqueologia
que resgata não somente o passado, mas também projeta as problemáticas da
afirmação do patrimônio a aqueles que são também estão inclusos nos contextos
históricos, (comunidades, escolas, municípios, prefeituras).
A cultura patrimonial não está somente para elucidar o objeto e
nem somente sua apresentação. Ela se insere ao público onde esse estão também
aprendendo e adquirindo habilidades relacionadas a salva guarda do patrimônio.
Como conceitua Silva (2007), a Educação Patrimonial não empreende de uma
simples atividade pedagógica e também não se assemelha a uma disciplina no
curriculo escolar. Em sua abrangêcia detém de uma índole
interdisciplinar integrada a várias areas de conhecimento. E um dos
metódos em que a educação patrimonial está inerentemente ligada à Arqueologia.
“[...] onde as investigações são feitas em campo, em
contato direto com os objetos dando entendimento acerca dos homens e suas
cultura, seus artefatos culturais, suas habitações e cercanias, permitindo
conhecer o seu passado numa visão diferenciada, mais democática, humana e
desalienada da história elitizada” (SILVA, 2007, p.41).
É sabido que Arqueologia se projeta em uma área de conhecimento
que se utiliza de vestígios materiais como fonte documental, e através dessa,
forja entendimentos e concepções sobre a vida de diferentes sociedades, tal se
relaciona de modo direto com os ambientes naturais e ecossistemas. Logo o
conhecimento arqueológico compõe-se de óticas interdisciplinares, que
possibilitam nesse caso, o meio escolar para que assim possam ser desenvolvidas
atividades de educação patrimonial, que como discutido, se voltam para a
sensibilização de professores e ou alunos sobre o enfoque da proteção e
valorização do patrimônio cultural no processo educativo.
Dessa perspectiva, em 2016, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) aprovou a Portaria n°137, que prevê as diretrizes de
Educação Patrimonial no âmbito do IPHAN e de espaços como Casas patrimoniais.
“Art. 3º São diretrizes da Educação Patrimonial:
I - Incentivar a participação social na formulação, implementação
e execução das ações educativas, de modo a estimular o protagonismo dos
diferentes grupos sociais;
II - Integrar as práticas educativas ao cotidiano, associando os
bens culturais aos espaços de vida das pessoas;
III - valorizar o território como espaço educativo, passível de
leituras e interpretações por meio de múltiplas estratégias educacionais;
IV - Favorecer as relações de afetividade e estima inerentes à
valorização e preservação do patrimônio cultural;
V - Considerar que as práticas educativas e as políticas de
preservação estão inseridas num campo de conflito e negociação entre diferentes
segmentos, setores e grupos sociais;
VI - Considerar a intersetorialidade das ações educativas, de modo
a promover articulações das políticas de preservação e valorização do
patrimônio cultural com as de cultura, turismo, meio ambiente, educação, saúde,
desenvolvimento urbano e outras áreas correlatas;
VII - incentivar a associação das políticas de patrimônio cultural
às ações de sustentabilidade local, regional e nacional;
VIII - considerar patrimônio cultural como tema transversal e
interdisciplinar”.
A partir desse prisma normativo se observa todas a nuances a qual
a cultura patrimonial deve ou possivelmente ocasione aos integrantes a qual se
inserem na prática patrimonial. Os achados arqueológicos devem ser socializados
com a comunidade por meio das E.Ps e que esse gere a sensibilização tão
importante para que se construa a relações do homem social com o patrimônio,
ligados intrinsicamente de forma que visem o Material/Natural como parte da história
e do cotidiano das pessoas.
Esse processo tão esperado, os atores sociais tornar-se-ão
multiplicadores da ideia ao sentirem como parte integrante da ação. É
necessário destacar que um dos problemas enfrentados hoje em relação a educação
patrimonial é a visão ingênua de que ela é a grande salvadora de todos os
problemas relacionados à preservação do patrimônio cultural. A educação
patrimonial passa a ser um mecanismo capaz de solucionar todas as
transformações envolvendo a identidade cultural, a gestão e preservação do
patrimônio (SOARES; REMPEL, 2010).
Ao que se presume com esse entendimento, a Educação Patrimonial
pode/deve ser fomentada e apreendida as comunidades próximas aos sítios
arqueológicos descobertos, e assim buscar objetivar nesses locais a
sensibilização para como o passado arqueológico e do patrimônio natural local.
Possíveis práticas patrimoniais aos sítios de Corguinho e
Aquidauana/ baseadas no exemplo bem-sucedido no distrito de Porto Caiuá –
Naviraí - MS.
O Museu de Arqueologia da Universidade Federal do Mato Grosso do
sul, em seus doze anos de atividade, produziu diversas ações com êxito de
Educação Patrimonial com foco na Pré-História de Mato Grosso do Sul.
Dessa forma, recorremos ao museu, para avaliarmos alguma ação patrimonial fosse
possível de aplicação aos sítios de Corguinho/Aquidauana, objeto de pesquisa
desse trabalho.
Logo um local foi suscitado, pelas diversas características que se
inserem ao contexto dos achados análogos aos sítios descobertos e pelas ações
que foram desempenhadas por uma equipe multidisciplinar. Desse modo foi
escolhido para exemplificar as ações de cultura patrimonial o trabalho
respectivo a: ÁREA PROJETADA PARA A IMPLANTAÇÃO DO DISTRITO DE PORTO CAIUÁ,
Portaria IPHAN nº 48 de 14/10/2013, que tem como instituição responsável o
MuArq em parceria com a Fundação de Apoio a Pesquisa, ao Ensino e à Cultura
(FAPEC).
Esse trabalho em resumo, foi desenvolvido a uma pesquisa referente
ao desenvolvimento de um trabalho de consultoria técnico-científica em
Arqueologia, atribuído ao instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). No presente trabalho ocorreram ações de pesquisa para
implantação do Distrito de Porto Caiuá, que no contexto abrange o entorno do
Sítio arqueológico “Rio Ivinhema 1 (VN1), no município de Naviraí/MS. O
objetivo do trabalho coordenado pelo então Prof. Dr. Gilson Rodolfo Martins
(UFMS), consistiu em delimitar na parte arqueológica os locais referentes aos
vestígios arqueológicos e seus perímetros, frente a implementação do Distrito
proposto “Porto Caiuá”, e que nesse trabalho tinha como fundamental, proteger o
Sítio então apresentado.
Das diversas etapas desse trabalho, será apresentado aqui as ações
de cultura patrimonial que foram desempenhadas em conjunto a comunidade
residente ao entorno do sítio INVINHEMA 1(VN1), e que poderão também ser
aplicados nos municípios de Corguinho e Aquidauana. As etapas que se sucederam
no projeto do Distrito Porto Caiuá, se observou as ações de aplicação da
cultura patrimonial. A primeira etapa dessas ações, consistiram em pesquisas
preliminares sobre as características dos moradores locais. Foram aplicados
questionários simples de forma informal, como conversas descontraídas sobre a
disposição dos vestígios arqueológicos, como também se observou o cotidiano da
comunidade durante o trâmite do projeto.
Posteriormente foi realizado um Levantamento Quantitativo referente
as características culturais do Porto Caiuá (MARTINS, 2013). Se desenvolveram
entrevistas junto aos moradores, onde foram coletadas diversas informações
quanto escolaridade, sobre como se veem e como é a relação com o convívio
familiar além de incidência de festas e reuniões. O que chamou a atenção do
resultado foi o desconhecimento pela maioria sobre o conceito de sítio
arqueológico e sua definição, como também, sobre o patrimônio cultural. Logo se
repensou às práticas arqueológicas e foi necessário a apresentação da ciência
arqueológica a comunidade.
Em referência aos sítios arqueológicos descobertos em
Corguinho/Aquidauana, em entrevistas com os moradores locais, se nota que eles demonstraram
o desconhecimento sobre as práticas arqueológicas, ademais sobre pintura
rupestre e confecção de cerâmica pelos indígenas que habitaram a região.
Partindo do modelo de Educação Patrimonial empregado no Projeto Caiuá (MARTINS:
2013), propomos exercícios sobre conceitos como cultura, território, história e
Arqueologia em conjunto com os alunos do ensino fundamental na comunidade.
Nesse sentido, acreditamos ser importante tratar de: Conceitos de Objeto; Tempo
Arqueológico; Evolução da Paisagem; Formação do Sítio Arqueológico
(Estratigrafia); Importância do Registro das Peças In loco; Necessidade
de não intervenção/ Descaracterização dos Sítios (MARTINS, 2013).
Através desses temas os
alunos poderão recorrer a dicionários para trabalhar elementos arqueológicos,
patrimoniais e Pré-Históricos. No que tange ao exercício individual, trabalhão
com questões comparativas como o uso de ferramentas contemporâneas como facas e
martelos e depois aos do passado arqueológico (pedra e cerâmica). No exercício
coletivo poderá ser abordado a importância de cada peça arqueológica, seu
entendimento no contexto sua funcionalidade e sua interpretação arqueológica.
Dos recursos para essa
atividade poderão ser usadas fotos dos Sítios de Corguinho / Aquidauana através
de um quebra-cabeças, o qual poderá ser elaborado com o banco de fotografias do
projeto de pesquisa. O exercício em questão objetiva o estímulo e o respeito
coletivo, como também das qualidades de cada aluno.
Em suma, as descobertas
arqueológicas devem ser reveladas para a comunidade por meio da Educação
Patrimonial e da sensibilização sobre a relevância da preservação do Patrimônio
Natural/Material como parte da história e do cotidiano dos cidadãos. Durante
este processo, os atores sociais tornar-se-ão multiplicadores dessa ideia,
sendo com que a divulgação da Arqueologia não terá apenas como produto o
enriquecimento cultural dos alunos, mas também a apropriação de um conhecimento
ambiental. Assim, o desfecho da divulgação da Arqueologia não será apenas como
produto a alfabetização cultural, mas também a alfabetização ambiental.
Referências
biográfica
Pedro Leandro Batista de Souza é licenciado em História pela
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Referências
bibliográficas
BRASIL. Lei Federal n°3.924 de 26 de julho de 1961. disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/545756.
Acessado em 12/11/2019.
BRASIL. Decreto nº 3.552, de 4 de agosto de 2000 - Publicação
Original, disponível em:https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2000/decreto-3551-4-agosto-2000-359378-publicacaooriginal-1-pe.html.
Acessado em 12/11/2019.
BRASIL. Portaria nº 137, de 21 de
março de 2019. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, Publicado em: 22/03/2019 | Edição: 56 | Seção: 1 | Página: 23 Órgão: Ministério da Educação/Secretaria
de Regulação e Supervisão da Educação Superior. Disponível em:http://www.in.gov.br/web/guest/materia//asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/68157852/do1-2019-03-22-portaria-n-137-de-21-de-marco-de-2019-68157794
HORTA, M. de L. P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A. Q. Guia Básico de
Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional/Museu Imperial, 1999.
MAGALHÃES, Aloísio. “As duas vertentes do bem cultural”. Cultura.
Ano 10, n°36, 1981.
MARTINS, G. R. Projeto arqueológico “Área projetada para a
implantação do Distrito de Porto Caiuá”. Trabalho de consultoria científica em
Arqueologia. Campo Grande:
FAPEC/UFMS, 2013. (não publicado)
REMPEL, Anelise Heidi. Reflexos de Santo Amaro
do Sul: educação patrimonial e interdisciplinaridade. In: Santo Amaro do Sul:
Arqueologia e Educação Patrimonial. Santa Cruz do Sul: Editora da UNISC, 2010.
SILVA, Kátia Cilene Camargo. Educação
patrimonial: um convite à leitura do patrimônio cultural do município de
Anápolis-GO. 111 f., 2007. Dissertação (Mestrado em Gestão do Patrimônio
Cultural)- Instituto de Pré-História, Universidade Católica de Goías. Goiânia,
2007.
SOARES, André Luis Ramos
(org.) et al. Educação Patrimonial: relatos e experiências. Santa Maria: UFSM,
2003.
Parabénsssssssss pedro!
ResponderExcluirGostaria de saber como ocorreu de fato "a participação social na formulação, implementação e execução das ações educativas, de modo a estimular o protagonismo dos diferentes grupos sociais" previstos pelo IPHAN na normativa de educação patrimonial?
ResponderExcluirPois como pude ler, o autor destaca que as pessoas não dominavam o conceito de sitio arqueológico por exemplo, mas tenho certeza que nominavam o local com algum conceito próprio que lhes diz algo, isso foi agregado no dialogo com os coletivos humanos locais?
Clarice Bianchezzi
Olá Clarice, a sua pergunta é muito interessante. Pois bem, para aqueles agentes que se encontravam próximo aos sítios, digo os moradores rurais dos dois locais, estes imaginam que ambos os locais foram ocupados por "índios". Eles de fato não conheciam o termo "sítio arqueológico", apenas chamavam de "caverna rabiscada". O interessante é que a idéia de que aqueles espaços foram ocupados antigamente é presente, eles sabem que aqueles grafismos e pedaços de cerâmicas são antigos. Isso porque muitos já visitavam esses locais em várias fazes da vida. Não foi possível ainda realizar uma atividade de educação patrimonial mais efetiva junto aqueles que residem próximos aos locais. O que conseguimos foi através das conversas informais explicitar sobre a arqueologia e a história da ocupação dos sítios. Espero que os órgãos competentes ou outra instituição dê os pontapés nas pesquisas arqueológicas dos respectivos sítios e ações de cultura patrimonial.
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