Leonardo Candido Batista

 

EM DIREÇÃO A UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ENSINO DE MESOPOTÂMIA


 

O presente artigo não tem como intenção apresentar uma nova metodologia sobre o ensino em Mesopotâmia, mas sim mostrar um panorama com ideias que precisam ser repensadas nessa área da Antiguidade. Infelizmente existem poucas publicações e livros sobre o tema em nosso vernáculo, esses últimos estão mais para manuais que pouco contextualizam e problematizam a sociedade mesopotâmica como um todo. Existe uma defasagem conceitual sobre muitos aspectos desses povos que viveram em torno dos rios Tigre e Eufrates, fora suas esferas de influência. Essa percepção das “antigas civilizações” gera confusão e muitas interpretações errôneas e ultrapassadas na historiografia, criando uma distorção na leitura um pouco presa nas definições enviesadas do século XIX e início do XX como veremos mais adiante.

 

Outro problema desse modelo, é que tende para uma linearidade dispersa de grupos que sucederam outros conquistados: sumérios, acádios, gútios, amoritas etc. Isso condiciona à estrutura mesopotâmica em um sistema de “ilhas”, onde existe uma confusa justaposição de civilizações que supostamente tiveram sua primazia histórica, desempenhando um papel de liderança sobre as derrotadas. Essa sequência leva a uma contínua sucessão de reinos, que pode muito bem cimentar à ideia de populações desordenadas em uma temporalidade um tanto quanto exótica e alheia.

 

A inabilidade dos livros didáticos e da grande maioria dos manuais em língua portuguesa carecem de uma abordagem teórica um pouco mais elaborada, assim o leitor é induzido a pensar essas sociedades em ordem centrífuga, simplesmente jogadas pelo Antigo Oriente Próximo. Essa carência metodológica também faz parte de uma certa negligência acadêmica brasileira, às vezes um pouco refratária, enxergando esse campo como perfumaria e seus pesquisadores um tanto “excêntricos”. É verdade que nos últimos anos as pesquisas em Antiguidade Oriental cresceram, entretanto, são insuficientes para mudarem o quadro atual. Um alinhamento com as mais recentes e prestigiadas historiografias sobre Mesopotâmia é imprescindível para começarmos a esboçar alguma proposta, que também seria muito bem-vinda para o ensino de História.

 

Devemos solenemente frisar que os primeiros estudos sobre o Oriente Próximo e Egito foram realizados pelas potências imperialistas do século XIX, orbitando assim os padrões eurocentristas. Essa herança foi uma construção do Ocidente, que ainda persiste nas mentalidades delineando esse arquétipo do “místico” nessa área da Antiguidade. Essa perspectiva europeia é muito bem resumida por John Maier (1995, p. 107) argumentando que no coração dessa fascinação existe um apelo de um certo tipo de “saber”, que se opõe a característica definidora do “pensamento moderno”. Até a arqueologia trazer novas descobertas, essa “sabedoria” do Antigo Oriente Próximo baseava-se principalmente nos até então não decifrados hieróglifos, reflexões da Bíblia, e outros textos mágicos. Mesmo durante uma parte do século XX, os estudos nesse campo eram baseados em símbolos, metáforas e mitos que pareciam expressar o primitivo, o pré-lógico, o mitopoético, a consciência humana tradicional ou oral. Com muita frequência a percepção do “outro” era colocada contra a razão, análise, lógica, filosofia e ciência. Enquanto a civilização “moderna” é caracterizada como urbana, imperialista, masculina, branca, letrada e eurocêntrica, o Antigo Oriente Próximo aparece como o oposto, irracional, e não oferecendo uma alternativa “civilizada” (MAIER, 1995, p. 107). Como se não bastasse, ainda podemos observar resquícios de uma historiografia um tanto racista, quando objetiva conceitos como “raça dinástica” ou supervalorização da cultura suméria como projeto civilizatório. 

 

Mesmo atualmente no século XXI, tanto a assiriologia quando a egiptologia, continuam sendo estudadas no espectro das universidades europeias, norte-americanas, australianas e em menor escala pela “periferia” ocidental. A influência do imperialismo nessas regiões que hoje conhecemos como mundo árabe, fez com que esses países perdessem o interesse no desenvolvimento de uma narrativa própria de compreensão do seu passado. Efetuou-se assim a introjeção da concepção do Ocidente, reforçada pelo surgimento de museus, que serviram como mediação da interpretação europeia de tais sociedades passadas, naturalizando a apreensão ideológica desse milieu no que hoje é difundido como as “antigas civilizações”.

 

A arqueologia que é essencial para suplementarmos nosso conhecimento sobre o passado, nasceu no âmbito de reforçar o eurocentrismo, com isso, contextualizar o orientalismo é necessário para entendermos alguns termos pejorativos que perduram nos estudos sobre Mesopotâmia e afins. Esse ponto de vista se pauta em um estandarte elaborado de teorias que ao longo do tempo impôs um considerável investimento material, cimentando nas mentalidades esse panorama do exótico. Para Edward W. Said (2003, p. 35-36), o que podemos entender por orientalismo, é um corpo geral das representações dominantes nas massas. Está impregnado de doutrinas de superioridade europeia, vários tipos de racismo, imperialismo e coisas semelhantes, visões dogmáticas do “oriental” como uma espécie de abstração ideal e imutável.

 

A ação de pensar o ambiente mesopotâmico como um conjunto étnico e cultural, pode muito bem ajudar a angariar uma maior compreensão sobre sua história, evitando o que já descrevemos como civilizações ilhas, ou seja, grupos dispersos e inertes com apenas algumas descrições básicas, com pouca ou quase nenhuma contextualização à margem das diversas influências. É inevitável vermos trabalhos com periodizações específicas, sendo quase impossível escapar de um recorte para uma análise mais minuciosa, como, por exemplo, a IIIª dinastia de Ur, Império Assírio, Império Neobabilônico, porém essas abordagens devem ser feitas enfatizando as conexões e mediações que essas sociedades compartilhavam entre si.

 

 

 

A Influência de Uruk

Assim como um relógio necessita de engrenagens para o seu funcionamento, as interações e fluxos foram fundamentais para a manutenção das estruturas vigentes no Antigo Oriente Próximo. Um meio de compreendermos essas relações é o que Guillermo Algaze (2008, p. 68) defende como “expansão de Uruk”, que resumidamente podemos entender como uma integração das sociedades da baixa Mesopotâmia por volta da segunda metade do quarto milênio, na qual a influência dessa região foi difundida por nódulos em localidades distintas, embora Gonzalo Rubio (2007, p. 20) aponte que essas redes poderiam ter existido já no quinto milênio no período Ubaid. Apesar dessa explicação ter muitas controvérsias por se basear na Teoria de sistema-mundo do sociólogo Immanuel Wallerstein, e pelo fato de muito pouco sabermos da fase Uruk, ela é um caminho para entendermos essa malha que gerou vários tipos de entrepostos ao sul, estabelecendo locais estratégicos de suma importância na periferia mesopotâmica, beneficiadas pela intersecção dos rios e outras rotas terrestres.

 

A penetração de Uruk foi um processo de implantação urbana, ao passo que as formas sociais e culturais mesopotâmicas eram introduzidas em paisagens essencialmente virgens (ALGAZE, 2008, p. 69). Isso é um ponto de partida para observarmos que já existiam sofisticadas formas de comércio e contatos com diversas áreas do Oriente Próximo ainda no quarto milênio. Luciano Milano (2012, p. 72) complementa que o modelo proposto por Algaze chamou muito a atenção dos especialistas, mas uma de suas deficiências se encontra no exemplo da intensa troca comercial de longa distância não ser suficientemente documentada pela arqueologia. Além do mais, a presença de produtos acabados de origem sul-mespotâmicas nos arredores parece ter um peso bem limitado. Em alguns casos, como na metalurgia, a especialização da produção nas regiões periféricas aparenta certo refino, podendo não ter origem meridional. Um outro ponto controverso, é o que Algaze chama por “colônias”, que por base dos dados arqueológicos poderiam não ter sido, tendo em vista que pesquisas recentes apontam que as áreas além de Uruk tinham uma grande complexibilidade econômica e social (MILANO, 2012, p. 73).

 

É um tanto comum atribuir o “início da civilização” na Suméria, como se de repente o que denominamos como um conjunto de cidades-Estados (na qual Uruk fazia parte), desabrochasse tal como um milagre, apresentando os mais elaborados conceitos humanísticos e sendo o berço da humanidade. O termo “civilização suméria” por si só é uma noção generalizada e vazia, existem várias discussões sobre a própria nomenclatura e como os especialistas tendem a identificar essa etapa, todavia é importante esboçar, mesmo que concisamente, algumas características para evitarmos o senso comum dessa terminologia. Como explica Luciano Milano (2012, p. 63), o auge de um processo mais complexo de organização social foi alcançado na segunda metade do quarto milênio, durante o Uruk Tardio. Esse fenômeno está associado com a formação de organizações estatais e o nascimento de grandes centros urbanos. O território por inteiro era dividido em uma rede bem articulada de assentamentos independentes e hierarquicamente distintos, enquanto a cidade se tornou o centro do poder político e religioso. Gonzalo Rubio (2007, p. 20) considera que o reino de Kish, em meados do terceiro milênio, também teve um papel importante na difusão intelectual. Cobrindo uma ampla região em Ebla no Norte da Síria (ou mais a oeste) até Kish na Mesopotâmia, e também provavelmente algumas áreas a leste dessa localidade (Abu Salabih, Diyala, e talvez até à Assíria). Aparentemente isso constituiu um continuum cultural desse distrito, estendendo-se da Síria setentrional ao Sul mesopotâmico. O termo “Kishita” é usado com uma cobertura para a continuidade linguística pré-sargonica, e algumas de suas características sobreviveram no período acádio e nos textos de sakkanakku em Mari.

 

Essa interação causada pela propulsão da influência mesopotâmica meridional deve também ser analisadas no aspecto geográfico (veremos mais à frente um estudo de caso mais localizado). Para Mario Liverani (1995, p. 38) a geografia do Oriente Próximo é um dado importante no ponto de vista histórico, supostamente porque regiões com vocações e recursos seriam interligadas por um estreito contato. Liverani pontua três abstrações que são essenciais para analisarmos essas ligações: ponto nodal, fronteira e nicho. Por ponto nodal podemos entender por duas zonas distintas. Através dela passa, em ambas direções, experiências, produtos, pessoas e tecnologias, que existam em uma zona, e na outra não. Em geral, esse acontecimento implica uma mudança nos códigos expressivos e de valores, com um efeito de fecundação recíproca, de comparação e ajuste dos resultados, que tanto contribuíram para a evolução das comunidades humanas desde os tempos mais antigos. O conceito de fronteira é distinto, sendo que essa é uma zona marginal e terminal de um núcleo determinado, por outro lado, da qual segundo os membros dessa comunidade não há nada, ou é geralmente inferior, é um território apetitoso para a exploração de matérias-primas, mediante a trocas desiguais, até chegar à forma de conquista militar. O significado de nicho (ecológico e cultural) é o oposto. Sublinha o valor de certas zonas compactas e coerentemente delimitadas por pontos nodais mais ou menos próximos, e protegidas pelo meio que as rodeiam (LIVERANI, 1995, p. 37-38).

 

Luciano Milano (2012, p. 68) argumenta que na segunda metade do quarto milênio, além do processo de urbanização e da formação das primeiras estruturas de tipo estatal, se intensificaram conexões com várias regiões do Oriente Próximo, particularmente com toda a Mesopotâmia e lugares ainda mais distantes. Em alguns casos a natureza desses vínculos eram constituídas pelo trânsito de pessoas do sul para o norte, em busca de novos assentamentos. Ao mesmo tempo, comunidades locais com longa tradição na interação com grupos austrais, assimilavam o estilo de vida e o poder sistêmico de Uruk, existindo assim diversos meios nos quais essa cultura se firmou nas localidades. Leo Oppenheim (1977, p. 32) destaca que uma característica fundamental desse fenômeno, parece ter sido a criação de “civilizações satélites” em locais periféricos dos vales fluviais. Essas que se originaram do contato entre a sociedade principal ou nuclear, e os novos grupos étnicos com suas próprias tradições.

Figura 1 – Mapa geral do Oriente Próximo: Mesopotâmia e suas áreas de influência Fonte: (SANMARTÍN; SERRANO, 1998)

 

Philippe Beaujard (2016, p. 31) reforça essa ideia comentando que esses centros desenvolveram inovações tecnológicas que junto ao poderia militar e ideológico, permitiram-lhes construir um setor produtivo e eficiente, com redes de intercâmbio onde eram globalmente dominantes. A vantagem demográfica também contribuiu em grande parte para a supremacia dos núcleos, permitindo importantes inversões na agricultura, na mobilização de tropas e manufaturas. Trocas assimétricas foram estabelecidas com as semi-periferias e periferias mediante uma relação de “atração” dos produtos manufaturados (principalmente têxtil), na qual eram trocados por matérias-primas (ou semi-processadas) e escravos.

 

Os produtos da região central ajudaram as elites das cercanias angariar certo status. A assimetria, portanto, era produto da natureza de bens trocados, da forma que eram obtidos ou produzidos no contexto comercial. Para estabelecer dominação, os eixos centrais determinavam diversas estratégias, tais como tributos, alianças, colônias, casamentos, conversões religiosas e ações militares (BEAUJARD. 2016, p. 33). Apesar desse quadro da expansão de Uruk ser baseado em suposições sem fortes ligações com fontes escritas ou de natureza findada na cultura material, não há porque duvidar que no começo do IV milênio essas interações começaram a se consolidar em pequena ou maior escala dentro do vasto mundo mesopotâmico e afora. Tornando-se cada vez mais intenso ao longo dos rios e rotas terrestres. Repensar esse modelo é uma tarefa essencial se quisermos expandir e melhorar as condições de ensino, pois esse é um passo para contextualizarmos um panorama muito maior com problematizações mais contundentes sobre essas sociedades, não obstante, essa é somente uma peça para relacionarmos com a condição de aprendizagem.

 

 

 

O Panorama geográfico mesopotâmico

Tentaremos explanar a importância geográfica local. Vimos de maneira mais ampla como esse aspecto foi primordial para a existência de redes que permitiram contatos pelo menos desde Ubaid por todo o Oriente Próximo. Como explica Nicholas Postgate (1999, p.15), é necessário compreender a geografia da Mesopotâmia para entendermos a sua história, pois ela definiu o estilo de vida da comunidade agrícola e, em consequência, da cidade. Predeterminou a área dos assentamentos e as rotas que proporcionaram essa união. As grandes variações na temperatura, assim como as abruptas mudanças na paisagem; dividem a região em extensões ambientalmente distintas, que poderiam ser desenhadas em um mapa com muito mais claridade que a maior parte das zonas temperadas do mundo. As diferentes dimensões favorecem e impõem estilos de vida diferenciados, que com frequência coincidiram com divisões étnicas e políticas, tendo consequentemente um impacto direto em sua formação. Em certas ocasiões, a configuração física atua diretamente sobre os indivíduos, as cordilheiras são obstáculos na comunicação e as planícies a possibilitam com os rios canalizando essas relações. As grandes unidades políticas se desenvolveram em localidades de fácil interlocução, fossem em lugares mais planos ou montanhosos.

 

Reforçando essa ideia de demarcações, Michael Roaf (1990, p. 19) ressalta que o desenvolvimento alimentício é um requerimento básico para a instalação populacional, dependendo do ambiente e lugar. O Antigo Oriente Próximo era conhecido como terra dos cinco mares, circulado pelo Mediterrâneo, Negro, Cáspio, o golfo e o mar Vermelho. As empreitadas marítimas, de certa forma, tiveram menos importância que as vias terrestres no estabelecimento humano. As paisagens resumem-se em: pântanos no Sul do Iraque, passando por desertos de basalto na Jordânia e Síria, até montanhas cobertas de neve no Irã. Cada ecossistema é distinto por sua diversidade na vegetação, também impondo métodos de subsistência em seus habitantes. Uma das poucas semelhanças compartilhadas da área é a falta de chuvas nos meses de verão. A variedade dos hábitos em proximidade possibilitou diferentes modos de vida coexistindo em incessantes inter-relações, um fator que pode ter levado a uma mistura de ideias e estimulado tecnologias, ciência e avanços sociais no Oriente Próximo. Jean-Claude Margueron (2013, p. 21) comenta que não é fácil delimitar a precisão da entidade mesopotâmica, pois ali nunca houve limites claramente definidos. Nossos atuais conceitos de fronteira são demasiados modernos, portanto, inválidos para tal temporalidade. Assim, a bacia hidrográfica constituiu um caráter físico essencial, que nos permite explicar a gênesis e a evolução daquele setor. Foi o que proporcionou o verdadeiro fator de unificação, viabilizando a instalação de pessoas, sem as quais ali seria apenas um deserto (MARGUERON, 2013, p. 21).

 

A ambiência mesopotâmica foi propícia para tais interações, sendo ditada pela dinâmica dos rios que praticamente facilitavam esses vínculos em todas as direções. A geografia local ajudou a modelar a própria concepção de realeza, como explica Joaquín Sanmartín (1998, p. 11), a ideia universal de poder aparece inerente no meio político mesopotâmico, desde suas primeiras manifestações conscientemente estatais, quando os monarcas adotaram o título de “reis das quatro regiões”. Jean-Claude Margueron (2003, p. 26) elucida que o nome “meso potamos” não se aplicou sempre a mesma extensão, e que no período helenístico, essa terminologia estava relacionada a porção setentrional da bacia, sendo mais recente o uso que inclui o território babilônico e sumério, e também outras faixas limítrofes a essa expressão topográfica. Tal modificação semântica (da designação do todo por uma de suas partes), levou a mascarar um traço fundamental na realidade geográfica, a divisão regional que os especialistas classificam como norte e sul, sendo que as condições humanas nessas localidades variam muito.

 

Na vida sedentária, Nicholas Postgate (1999, p. 31) classifica que o agricultor sulista necessitava ser constantemente vigilante para controlar o sistema de irrigação, porque os campos de cultivo se circunscreviam da necessidade e manutenção dos canais, separados em muitos casos por pontos de pastoreio no deserto. Ao norte não era necessário tal cuidado, com o senso comum ditando o cultivo dos campos que se estendiam de maneira uniforme até trechos desérticos, seguindo o contorno da linha de diminuição das chuvas. A maior parte das terras não eram cultivadas nas zonas situadas entre os dois blocos por serem muito secas. Essas circunstâncias separaram os dois principais centros mesopotâmicos, restringindo os contatos culturais, políticos e militares entre norte e sul a duas ou três rotas que ofereciam acesso necessário à água e certa segurança. Em certas ocasiões, existiram continuidades de ocupação ao longo das colinas dos Zagros, onde estavam localizados os principais percursos comerciais.

 

As bandas aluviais que cortavam os vales, também proporcionavam conexões. Esses oásis formavam tentáculos da cultura meridional dirigindo-se ao norte: Mari sobre o Eufrates e Assur sobre o Tigre, eram postos avançados da Suméria e Acádia. Ambos estavam situados nos pontos em que a bacia se alarga, existindo bons terrenos para o estabelecimento de assentamentos relevantes, mas sem dúvida essa possibilidade deriva do controle sobre o tráfico dos rios (POSTGATE, 1999, p. 32). Esse espaço físico é de suma relevância para entendermos como fora aplicada a política local, tanto em suas divisões como na forma em que as mediações alcançam outras bandas, sejam pelas rotas terrestres ou fluviais. É notável que esse quadro influenciou muito na forma de seu desenvolvimento histórico, por tornar maleável muito dos elos entre diversas sociedades.

 

As constantes culturais mesopotâmicas desafiaram os aspectos naturais, alcançando regiões muito distintas se sua órbita, mesmo com condições adversas como desertos, colinas, estreitos, rios, entre outros, agindo como uma explosão que deixa marcas dentro das suas possibilidades. Essas vias de comunicação funcionaram como um leque, que segundo Joaquín Sanmartín (1998, p. 12) remontavam fundamentalmente as bacias hidrográficas, sendo o Eufrates uma porta para a Síria continental, o Levante e a parte Ocidental de Anatólia. Já o Tigre e seus afluentes da margem esquerda conduzem até a Anatólia Central e Oriental, o arco do Cáucaso e o platô iraniano. No oeste, a Síria, em particular o seu litoral, manteve a sua peculiar identidade cultural sob o manto dos sistemas simbólicos e tecnológicos mesopotâmicos; por outro lado, as áreas ao norte, sub-caucasianas e elamitas, ficaram diretamente influenciadas pela Mesopotâmia, vendo sua autonomia cultural resumida, a não ser por particularidades linguísticas.

 

As populações do médio e alto Tigre (Assíria), do Cáucaso e do Elam tiveram que aceitar plenamente no transcurso de sua história, os valores estéticos, os padrões políticos e a escrita cuneiforme (SANMARTÍN, 1999, p. 12). Esses componentes geográficos mais localizados, são necessários para compreendermos as instituições que deram corporeidade à população mesopotâmica. Dois fatores que podem parecer distintos, mas são denominadores comuns que faziam parte da realidade dos povos que ali coabitavam.

 

Como classificar estruturas políticas no Antigo Oriente Próximo?

Após direcionarmos como os vínculos das trocas culturais e geográficos ajudaram modelar à esfera de influência mesopotâmica, um outro problema que necessita passar por um escrutínio são as terminologias modernas que usamos para a classificação de suas estruturas políticas e sociais. Os grupos que abrangiam essa temporalidade nunca se denominaram como “mesopotâmicos” ou qualquer outro epíteto corrente, as rotulamos assim simplesmente porque atende as necessidades tradicionais construídas no século XIX, quando não existiam essas preocupações. O mesmo ocorre quando identificamos esse período histórico como Antigo Oriente Próximo, mas afinal, o que é o Oriente? Joaquín Sanmartín (1998, p. 9) esclarece que esse termo é uma noção europeia de origem ilustrada e romântica, que abaixo a esse princípio encontra-se todos os pensamentos que nos séculos XVII e XVIII ainda escapavam do controle direto das potências europeias, seguindo por ilustração à Ásia e o Norte da África. O Oriente não existe como uma entidade geomorfológica, na realidade, essa denominação designa um conglomerado geograficamente muito diversificado, no qual se distinguem vários ecossistemas.

 

É importante lembrar que a disciplina de História tem por função a formação de um pensamento crítico, portanto, devemos exercitar essa parte tão fundamental para pesquisadores e professores, conceitualizando certas nomenclaturas. Formulações como Estado, reino e império são vocábulos vigentes que não eram conhecidos nessa época. A respeito dessas conceitualizações, Cristina Di Bernnardis (2014, p. 16-17) se pergunta se é possível falar de “Estados” em tempos tão longínquos, pois essa caracterização a distintas formas de centralidade em organizações políticas modernas, acompanham o processo de acumulação originária do desenvolvimento do capitalismo, com relação ao surgimento das primeiras monarquias absolutas seguidas pelas democracias. Assim tendemos a partir do nosso momento pensar em normas políticas contemporâneas para tentarmos entender sociedades antigas, que não conheciam uma unidade sistemática que por ordenação surgiram em debates mais tardios.

 

Todavia, não devemos negligenciar a existência de um controle territorial sólido em uma data tão remota, e quando trazemos esses princípios atuais, são para simplificar os seus significados em uma tentativa de compreender a composição política da época. Claro que esse é um entendimento embasado em nosso presente. É válido lembrar que o Estado Moderno nasceu de várias discussões durante os séculos, e variaram das ideias de Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau etc. Na antiguidade não existia tal anseio, e talvez uma alternativa seja pensar por esse lado; os hititas chamavam seu reino de terra de Hatti, onde o poder era outorgado pelo deus da tempestade ao soberano; no caso do Egito, o poder fora regulado pelo equilíbrio da Maat e na Mesopotâmia existia uma percepção muito similar chamada de Kittum. Esses elementos são chaves para ponderarmos algo que se aproxime da nossa idealização política conceitual nessa era.

 

Seria praticamente uma tarefa hercúlea buscar uma nova interpretação dessas instituições seguindo a cosmovisão das sociedades do Oriente Próximo, não obstante, procurar enxergar por outra ótica como esses povos entendiam as suas estruturas organizacionais, pode ser uma maneira de evitarmos um pouco o pensamento estatal na alçada moderna. Como explica Marcelo Rede (2009, p. 137), a noção de Kittum consegue ser interpretada em um nível abstrato, com origem em uma raiz que significa “ser/tornar estável”, também podendo ser traduzido por verdade, justiça, correção e equilíbrio. Isso indica um atributo mais geral do soberano enquanto responsável pela ordem social, exercendo essas pujanças pelo zelo contínuo, combatendo todas as manifestações caóticas. Por motivos de forças maiores, como por tradição historiográfica e por não existir um empenho acadêmico rigoroso para uma compreensão mais apurada e conceitualizada, seguimos utilizando as terminologias conhecidas como Antigo Oriente Próximo e Mesopotâmia, no entanto, é necessário mantermos atenção para outros tipos de nomeações.

 

Esse arco populacional é com frequência denominado Crescente Fértil, termo cunhado pelo arqueólogo estadunidense James Henry Breasted, entre 1914 e 1916. Para Joaquín Sanmartín (1998, p. 12) essa denominação é problemática e deve ser evitada na história científica por muitos motivos, sobretudo, por misturar indevidamente culturas heterogêneas e ser alheia aos mapas mentais autóctones, ou seja, a compreensão que tais culturas teriam os seus respectivos habitats e suas relações com os vizinhos. Esse panorama seria inconcebível na mentalidade dos reis babilônicos, que partiam de uma visão cruciforme do mundo. O que chamamos de Mesopotâmia constituía um sistema geocultural em equilíbrio relativamente estável entre quatro pontos de tensão, articulados em dois eixos (SANMARTÍN, 1998, p.12). Eixo norte-sul, com seus polos no terceiro milênio a.C. na Suméria (ao sul) e Acádia (ao norte). No segundo e primeiro milênio na Babilônia (sul) e Assíria (norte). Já o eixo leste-oeste, instituídos pelo Elam (ao leste) e a Síria (oeste).


Figura 2- Mapa mental babilônico das quatro regiões (Sanmartín; Serrano, 1998).

 

É evidente que nos finais do IV milênio começaram a aparecer simultaneamente centros com características estatais como, por exemplo, na baixa Mesopotâmia, Egito e Vale do Indo. Roxana Flammini (2012, p.19) comenta que a questão estatal do mundo antigo é muito mais complexa do que aparenta ser. As mais recentes aproximações teóricas questionam os enfoques evolucionistas que entendem o Estado como um laço a mais em uma corrente social evolutiva, à medida que essa conexão tende, ou deveria tender, a seguir a lógica de grupos, tribos, líderes, Estados, onde a liderança geralmente é a confirmação da prévia social. Apesar de todo o debate teórico complexo, essas discussões servem mais como uma crítica e ressalva à abordagem de um tema tão delicado em um período tão antigo. Cristina Di Bernnardis (2013, p. 17) acredita que os historiadores concordem que essas são partes das operações metodológicas inevitáveis para produzir uma interpretação mais ajustada possível. Mesmo que sempre parcial, provisória, e também motivada pelos temas do nosso presente.

 

Essas noções precisam ser repensadas no intuito de evitar certos erros teóricos que ainda persistem nos livros didáticos, levando a interpretações no mínimo ultrapassadas sobre a Mesopotâmia. Por muitas vezes essas sociedades são vilipendiadas, descritas com déspotas que oprimiam seu povo através da força e com impostos abusivos (uma velha herança de um marxismo ortodoxo baseado no modo de produção asiático). Pelo despotismo também eram conquistados outros reinos, esboçando um cenário de total carnificina. A guerra fora um fator muitas vezes ideológico no Oriente Próximo, mas a questão dos extremos coopera com uma visão negativa e pessimista sobre o tema. Pode-se observar uma certa dicotomia nesse aspecto entre a Antiguidade Oriental e a Clássica, onde esses valores muitas vezes são opostos, sendo a última vista com bons olhos e berço de todas as nossas tradições culturais.

 

Essa visão está em cotejo com o que Robin Osborne (2002, p. 9-10) entendeu como um “ícone” e um “enigma” da cultura clássica grega. Ícone por sua herança arquitetônica ser referência para o mundo ocidental, colocando a arte figurativa no centro a exploração e a sensualidade do corpo, os dilemas e as crises que assediam o indivíduo e a comunidade, desdobrando-se com matizes na tragédia, na filosofia, no conceito de política como uma soma de ações determinadas através de uma assembleia popular. Um enigma porque as cidades gregas cresceram diferentes daquelas do Antigo Oriente; menores, mais ou menos independentes, com falta de recursos básicos, fazendo os gregos se dispersarem por todo o Egeu e Mediterrâneo, muitas vezes lutando entre si. Com os eventos das guerras médicas em meados do século V a.C., houve uma união da Hélade com características suficientes para os próprios gregos encontrarem similaridades em sua cultura, diferenciando-os dos persas.

 

Outro problema que podemos nos deparar na historiografia sobre o Oriente Próximo é a estereotipação, infelizmente ainda presente em certas análises que levam aos frequentes erros que já apontamos. Thomas Hylland Eriksen (1993, p. 22) destaca que os estereótipos surgem a priori quando dois indivíduos se encontram pela primeira vez, enquanto as informações extraídas desse choque estão ligadas aos componentes étnicos, primeiramente criando uma forma “grosseira” comportamental perante os demais. Em outras palavras, com o estabelecimento de um padrão étnico, pode-se saber o tipo de atitude nessa relação. A premissa da ideia de Eriksen nos ajuda a entender como esses padrões de etnicidade e alteridade geram distorções quando pessoas ou grupos fazem um primeiro contato, absorvendo somente conceitos básicos de determinada cultura. Os membros de cada comunidade têm ideias particulares dos vícios e virtudes dos outros; quando tais convicções se tornam uma parcela do “conhecimento cultural” de um coletivo, essas se transformam em uma espécie de “guia” nas relações, nas quais podemos sublinhar como uma preconcepção étnica. O estereótipo refere-se à criação e à aplicação consistente de noções de padronização e de distinção cultural de um grupo, são mantidos por camadas dominadas assim como dominantes. Espalham-se pelos meios com grandes diferenças, quase sempre acompanhada de um violento desequilíbrio de poder entre os grupos étnicos.

 

É crucial ter ciência de que os estudos e aplicações referentes ao Antigo Egito e Oriente Próximo foram deturpados por chavões baseados no eurocentrismo, orientalismo e outras muitas concepções equivocadas persistentes até hoje. Todas essas contextualizações são necessárias para começarmos a pensar novas abordagens e propostas que a literatura política atual não tem capacidade de abranger, ou seja, novas ferramentas teóricas e outros campos humanísticos precisam se juntar na abordagem dessa temporalidade histórica. A falta de um rigor metodológico é um dos problemas que nos fazem patinar nesse sentido. Como aponta Cristina de Bennardis (2013, p.18), uma grande parte das obras publicadas no século XX não apresentam questões críticas sobre o uso de conceitos modernos para realidades muito distantes, existindo assim o uso demasiado de termos como “Estado” ou “império”, sem se sentir obrigada a produzir perspectivas, nas quais se efetua inevitavelmente um deslizamento semântico, desde às determinações modernas do sentido até a realidade estudada. Susan Pollock (1999, p. 22) expõe que a aproximação nos estudos mesopotâmicos de teorias como ecologia, evolução das culturas e sistema-mundo estão preocupadas com o abstrato e o generalizável processo de mudança cultural. Tais perspectivas foram passos importantes para livrar a disciplina dos “grandes feitos e homens”. Ainda assim, essa ênfase em formulações abstratas e transculturais tiveram a mesma extensão em tirar a história do seu povo, deixando processos inanimados de interação sem à benesse dos conscientes envolvimentos. Perspectivas baseadas na política econômica e no feminismo ajudam a contrapor essas tendências, balanceando o peso nesse processo de longa escala.

 

Repensando em um modelo para Mesopotâmia

Todos os pontos acima oferecem ferramentas para se pensar em um modelo mais unitário, que aponte mais similaridades do que algo esparso e disforme. Essa conexão que levou a esse continuum de desenvolvimento histórico na região é crucial se quisermos mudar a percepção de como os nossos livros abordam o tema sem cair em termos errôneos e estereotipados. Sendo assim, toda essa problematização deve ser elaborada de acordo com metodologias mais adequadas e em diálogo com as atuais e mais prestigiadas literaturas, esse é um dos caminhos para melhorarmos o ensino em Mesopotâmia. Mas como esse modelo poderia se aproximar de um molde singular com tantas entidades culturais nesse período? Marc Van de Mieroop (1997, p.6) afirma que o problema de continuidade e ruptura na história mesopotâmica raramente foi abordado de forma explícita, assumindo uma realidade do campo de pesquisa com nenhuma coerência para permitir uma delineação de identidade distinta. Inclusive uma referência à longa duração de Braudel pode parecer elegante, mas muito superficial. Problemas precisam ser considerados mais detalhadamente, apesar de ser caracterizada uma existência de unidade interna nessa sociedade, baseando-se que os invasores tentaram se integrar com estruturas existentes ao invés de destruí-las.

 

É inevitável que esse problema de dispersão exista, até porque essa questão de tentarmos entender de maneira conjunta é metódica, e mesmo que os documentos sobre os povos mesopotâmicos sejam abundantes, está separado por intervalos de tempo em uma grande extensão territorial. Dominique Charpin (1995, p. 807) comenta que os historiadores que fazem um levantamento sintético da história dos sumérios e acádios, se deparam com a dificuldade da divisão periódica. Apesar de existir um certo consenso sobre a organização em períodos dos três milênios que separam o surgimento da escrita na Suméria com a chegada de Alexandre Magno. Ainda que válido, esse sistema é questionado por privilegiar épocas que os recursos textuais são mais abundantes, separando-as assim da “idade das trevas”, fases essas que não duraram mais que um século e interromperam o desenvolvimento das “civilizações mais ilustres”.

 

Marc Van de Mieroop (1997, p. 6-7) argumenta que esse quadro de periodização levou a história da Mesopotâmia a destacar com mais ênfase eventos políticos e militares, em razão de serem considerados os acontecimentos mais importantes. Essas atividades eram apenas duas dimensões da vida mesopotâmica, e mesmo que de fato as fontes históricas mostrem evidências de mudanças ao longo da histórica local, elas são exageradas, dado que os livros descrevem em detalhes sucessões reais e guerras, dentro e fora do escopo regional. Mieroop segue a ideia de que esse modelo tradicional dos estudos mesopotâmicos leva a uma história de eventos e factual (histoire événementielle). Assim temos uma longa lista dinástica baseada em tradições nativas e em classificações modernas. As dinastias que são proeminentes nos registros textuais receberam seu próprio período (Terceira dinastia de Ur, Babilônica, Neo-Assíria). Outras menos documentadas foram classificadas como: Isin-Larsa, Pós-Cassita etc. Quando o centro de poder político muda da Acádia para Ur, ou dessa para Isin, ou um soberano persa substituiu um rei caldeu, estabelecemos limites intransponíveis nas relações históricas. Consequentemente não é investigado se essas transições de controle dinástico foram de crucial importância. A prática de caracterizar os estudos econômicos, legais, sociais, literários e religiosos dentro de um quadro temporal da realeza, aumentou ainda mais a importância dos eventos políticos. Assim a sociedade acádia, por exemplo, é investigada isoladamente de situações que a sucederam ou a precederam. O resultado da periodização é falho, ao invés de reconhecer padrões de continuidade, ele designa instabilidade e mudança. E essa fragmentação se torna ainda mais errônea quando aspectos da Mesopotâmia não diretamente dependentes da sorte da Casa Real são estudados. (MIEROOP, 1997, p. 7).

 

É um problema recorrente deixar de pontuar os estágios mesopotâmicos, pois quase sempre acabamos destacando um ou outro tema característico dos povos que ali coexistiram. O que deve ser evitado é uma justaposição de uma “civilização” sobre a outra, por uma suposta superioridade cultural, ou avanços tecnológicos isolados. A ideia é destacar um espaço em constante transculturação, sofrendo simbioses e adaptando características gerais em focus culturais particulares. Nas palavras de Gonzalo Rubio (2005, p. 8), a história e cultura mesopotâmica devem ser entendidas como uma rica tapeçaria, cujas variáveis fios estendiam-se ao longo de um período de mais de três milênios, com uma variedade geográfica na qual era pontuada continuamente por interações com outras áreas. Para Leo Oppenheim (1977, p. 35), as repetidas fusões das sociedades mesopotâmicas foram construídas em diversas camadas, nas quais essas situações emprestavam conceituações e reinterpretações de tradições que foram lançadas em moldes familiares e ajustadas para se encaixarem em uma gama de expressões consideradas adequadas, seja no campo da economia, sociedade, vida política, teologia e literatura. Essas articulações ao longo de sua existência, representam uma amalgama de diversas tensões.

 

Observamos assim que todas essas interpretações estão no bojo acadêmico e muito distantes do processo de ensino-aprendizagem, todavia é necessário que esses tentáculos teóricos comecem a atingir esse domínio. O ensino de História deve consultar, se atualizar e ampliar as perspectivas sobre o Antigo Oriente Próximo e Mesopotâmia. A ideia é nos desvencilharmos dos estereótipos, misticismos, orientalismo e formulações deturpadas que muitos livros ainda insistem, devemos tentar abordar em sala de aula que essas sociedades não eram ilhas fragmentárias em uma linearidade histórica, mas sim uma união milenar, que envolveu um continuum cultural envolvendo tradições socioculturais, intelectuais e tecnológicas.

 

Referência biográfica

Leonardo Candido Batista, Mestre em História Social pela UEL.

 

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2 comentários:

  1. Olá, Leonardo. Primeiramente parabéns pelo excelente texto produzido! É importantíssimo como professores que tenhamos o cuidado de abordar o assunto das sociedades do oriente próximo no ensino de História, pois como você mesmo pontua no texto pelas noções trazidas pelo Edward Said, podemos incorrer nessa visão "orientalista" carregada de estereótipos e generalizações que abrangem todo esse espaço. A minha dúvida é em um sentido mais prático da aplicação dessas novas interpretações de abordar a Mesopotâmia em sala de aula. Em nosso cotidiano como professores de história temos que abordar essa temática no 6º ano do Ensino Fundamental. Em minha experiência, esse tema sempre foi um desafio pois os alunos chegam até a sala de aula com noções muito cristalizadas do que foram determinadas sociedades. Você, durante a sua pesquisa, teve contato com dinâmicas diferenciadas ou diferentes formas de abordar o assunto para que o tema não passe tão desapercebido pelos alunos? Na sua opinião os livros didáticos que atualmente circulam no mercado tratam o tema de forma "orientalista"?

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    1. Andressa, fico feliz que tenha gostado do artigo! Primeiramente, o Said é uma base teórica essencial quando discutimos essas sociedades do Antigo Oriente Próximo, pois assim, podemos começar a desconstruir muito do imaginário exótico e fantástico que é costumeiro nessa temporalidade histórica. Todavia, eu nunca vi em um livro didático com uma abordagem sobre o orientalismo, mas isso não significa uma inexistência. Acredito que trazer esse debate é importantíssimo para uma compreensão que problematize esses povos, evitando assim estereótipos, mas existem muitas outras questões que precisam ser pontuadas.

      A intenção do texto, como eu mesmo disse, é trazer algumas problemáticas que vão desde o ensino de Mesopotâmia, até como essa área é tratada dentro da universidade. Essa questão também precisa ser repensada no mundo acadêmico, existem poucos livros em língua portuguesa que tratam do assunto sem serem superficiais, e aparentemente não existe nenhum esforço editorial para traduções de historiografias mais pujantes; também vemos pouco incentivo à pesquisa nesse campo, muitas vezes poucas cadeiras na disciplina, e grades curriculares imprecisas sobre Oriente Próximo.

      Na prática enfrento os mesmos problemas, como você muito bem disse, as noções estão muito cristalizadas, já que parte de uma época e cultura histórica muito alheia a realidade dos alunos, sendo complicado abordar esse tema, principalmente em sextos anos. Aqui no estado de São Paulo, recentemente foi criada uma disciplina chamada de Eletivas, na qual pretendo no próximo bimestre levar para a sala de aula as questões que abordei no simpósio.

      Atenciosamente

      Leonardo Candido Batista

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