Leandro Hecko

 

O QUE ENSINAR EM HISTÓRIA ANTIGA?

 

 

Quando pensamos na ideia geral suscitada pela expressão "História Antiga", uma miríade de desdobramentos toma conta de nossa cabeça! Entre eles, talvez seja interessante elencar a título de curiosidade e provocação, o seguinte: a História Antiga, no senso comum, possui uma imagem oriunda de experiências diversas, como o cinema, séries, a literatura, HQs, desenhos animados e jogos eletrônicos, que hoje em dia frente à sua grande qualidade gráfica estão ganhando bastante espaço na imaginação das pessoas. Essa imagem de História Antiga, a nosso ver, se altera apenas com uma boa e problematizada formação em História.

 

Lançadas essas ideias, dou início a questão maior que desejo aqui problematizar, provocar: se a ideia de "História Antiga" já nos traz inúmeros desdobramentos, o que dizer então, na posição de professor da Educação Básica ou do Ensino Superior, sobre a indagação "O que ensinar em História Antiga?". Partir, para o Ensino com base nas experiências já mapeadas junto aos educandos, provavelmente se configure em uma boa estratégia. E aqui, o que desejo é abrir possibilidades de diálogo com professores de todos os níveis de ensino e professores em formação, para discussão e aprofundamento e mapeamento de mais ideias.

 

Para refletir sobre esta questão-problema, percorreremos os seguintes passos: primeiramente, vamos observar o que alguns pesquisadores têm dito acerca do Ensino de História Antiga, muito sucintamente; em seguida, evocaremos algumas questões acerca do ensino de temas de História Antiga na Educação Básica; por fim, vamos pensar sobre a "História Antiga" ensinada no ensino superior, tendo em mente um curso de formação de professores/pesquisadores, mais comum no Brasil, que é o de licenciatura em História.

 

Observando algumas publicações pouco mais recentes, temos, grosso modo como vamos observar, um olhar problematizado sobre essa área que, a nosso ver, muito proficuamente, deve esbarrar em seu ensino como uma forma de atribuição de sentido ao que se ensina, além, claro, de buscar incentivar o interesse pela Antiguidade.

 

Uma primeira questão a ser levantada se refere ao fato de que pelo menos a perspectiva base para o ensino de História Antiga parece ter mudado e avançado um pouco para além do tradicional factual. Existe a construção de uma História Antiga mais problematizada e preocupada em compreender do que explicar/expor (SILVA, 2007, p.9), tentando sair do factual e compreender o conhecimento histórico em sua construção a partir de fontes, escrita e intencionalidades.

 

Nesta perspectiva de uma História Antiga mais problematizada, talvez seja importante considerar a questão dos usos do passado (HECKO, 2019, p.7-9), que põe o professor diante de possibilidades reflexivas acerca do tempo passado (Antigo) e presente (contemporâneo aos alunos), criando possibilidades didáticas que dialoguem com temas de interesse dos estudantes.

 

Temos, neste caminho, uma História Antiga, que dialoga com diversas temporalidades por onde transita o conhecimento histórico sobre as Antiguidades que possibilita uma forma diferente de ensinar. Não obstante, claramente, ainda nos são apresentados certos limites a serem considerados.

 

Em termos de recortes temáticos e áreas mais ensinadas, existe ainda uma evidência de algumas áreas sobre as outras:

 

"Podemos verificar que o ensino da História da Antiguidade Clássica ainda recebe maior valorização do que a Antiguidade Oriental (...) Acreditamos, então, que este fato advenha, primeiramente, da carga horária que é destinada à disciplina, da formação dos profissionais da área de História Antiga no Brasil, em sua maioria com seus mestrados e doutorados na área de estudos clássicos e, principalmente, na enorme dificuldade em estudar o Oriente ainda presente em nosso país, por termos pouca documentação escrita sobre estes contextos traduzidas para as línguas modernas, poucas obras publicadas em português e pela ainda existente dificuldade de acesso às fontes documentais”.(SILVA, 2010, p.148-149)

 

O olhar sobre Grécia e Roma parece tomar mais espaço de interesse, principalmente no tocante a Educação Básica, onde a passagem por Mesopotâmia e Egito pode ser, a depender do olhar do professor, mais rápida (ASSUMPÇÂO; CAMPOS, 2020, p.67).

 

Seguindo este caminho, quero indagar acerca do que se ensina sobre História Antiga na Educação Básica. O que dita a forma e os conteúdos a serem abordados pelos professores? Percorramos o seguinte caminho: o estudante que entra em um curso de graduação em História, passará por uma formação de professor com disciplinas específicas sobre o conhecimento histórico, disciplinas de didática e prática de ensino, terá contato com a Educação Básica por meio de estágios obrigatórios (onde sofrerá influência daquilo que acontece já no funcionamento da escola e do ensino) e, formado, estará "apto" a iniciar seu trabalho como profissional da Educação.

 

Quando o professor chega na escola, pública ou privada, por sua vez, terá que lidar com certas situações, rotinas já previstas do funcionamento das instituições de ensino. Em linhas gerais, o que se encontra? Uma escola funcionando com uma estrutura hierárquica, com base em políticas educacionais federais, estaduais ou municipais; uma escola com um Projeto Político-Pedagógico e uma Proposta Curricular, que por sua vez se ampara nas referidas políticas educacionais; a escola já terá, provavelmente, materiais didáticos com os quais basicamente o professor deverá lidar, materiais estes também amparados nas referidas políticas educacionais que, na sua origem são federais. Portanto, temos em relação ao professor alguns cerceamentos. Porém, objetivamente queremos considerar a iniciativa e criatividade do professor em lidar com todos esses grilhões.

 

Pensando sobre este contexto onde o professor se insere e sobre os grilhões que encontra, queremos destacar um item, que representa as referidas políticas educacionais e que gerou polêmica nos últimos anos, desde a sua construção até a publicação oficial: trata-se da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2018. A BNCC chega às escolas e influencia um contexto bastante amplo no que diz respeito à constituição de manuais didáticos, passando a servir de base para a escolha dos manuais didáticos que chegarão às escolas públicas do país junto ao Programa Nacional do Livro de do Material Didático (PNLD). O livro didático, portanto, em sua construção e antes de chegar à escola, passa por um processo avaliativo que, resumidamente considera se o material está ou não de acordo com a BNCC.

 

Em termos de organização, a BNCC propõe Unidades Temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades, como se vê na tabela abaixo. Na tabela, elaborada a partir do que mostra a BNCC, fizemos o recorte do que se refere à História Antiga. Observem a tabela.

 

Unidades Temáticas

Objetos de Conhecimento

Habilidades

A invenção do mundo clássico e o contraponto com outras sociedades

-Povos da Antiguidade na África (egípcios), no Oriente Médio (mesopotâmicos) e nas Américas (pré-colombianos)

(EF06HI07) Identificar aspectos e formas de registro das sociedades antigas na África, no Oriente Médio e nas Américas, distinguindo alguns significados presentes na cultura material e na tradição oral dessas sociedades.

Lógicas de organização política

-As diferentes formas de organização política na África: reinos, impérios, cidades-estados e sociedades linhageiras ou aldeias

-O Mediterrâneo como espaço de interação entre as sociedades da Europa, da África e do Oriente Médio

(EF06HI13) Conceituar “império” no mundo antigo, com vistas à análise das diferentes formas

de equilíbrio e desequilíbrio entre as partes envolvidas.

(EF06HI14) Identificar e analisar diferentes formas de contato, adaptação ou exclusão entre populações em diferentes tempos e espaços.

Trabalho e formas de  organização social e cultural

-Senhores e servos no mundo antigo e no medieval Escravidão e trabalho livre em diferentes

temporalidades e espaços (Roma Antiga, Europa medieval e África)

(EF06HI16) Caracterizar e comparar as dinâmicas de abastecimento e as formas de organização do trabalho e da vida social em diferentes sociedades e períodos, com destaque para as relações entre senhores e servos.

(EF06HI17) Diferenciar escravidão, servidão e trabalho livre no mundo antigo.

(EF06HI19) Descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres no mundo antigo e nas sociedades medievais.

Tabela: Alguns recortes de História Antiga na BNCC (HECKO; PUGA, 2020, p.140)

 

Pela tabela, e detendo-nos aos Objetos de Conhecimento e Habilidades, aqui circundados para o 6º ano da Educação Básica, vemos o pouco lugar que ocupam as sociedades antigas, além da sua inserção genérica na BNCC. Essa generalidade é a que vai orientar ou não a quantidade de conteúdo e forma como aparecerá em livros didáticos selecionados que chegarão às escolas. Vemos também, como citado pouco acima, a menor quantidade de questões relacionadas ao Antigo Oriente, mais genericamente ainda postas se confrontadas com temas greco-romanos.

 

Vemos enfim, que na Educação Básica são muitos os cerceamentos com os quais o professor deve lidar e, a nosso ver, a forma como o ensino de História Antiga se desenvolve no âmbito escolar é bastante influenciada por este panorama. Não obstante, mais uma vez ressaltamos: a formação e a criatividade do professor podem auxiliar na melhoria do ensino de História Antiga na escola.

 

Desta forma, chegamos ao Ensino Superior, considerando cursos de História que formam professores: as licenciaturas. O Ensino Superior também é regido por documentos, porém estes são mais amplos no sentido de possibilitar diversas situações, levando a uma certa liberdade sobre o que ensinar. Sempre gosto de pensar em uma questão: o que deve influenciar no que? A formação do professor deve considerar o que ele vai encontrar na escola, em termos de políticas educacionais e possibilidades de ensino ou é a escola que deve se moldar ao que sai das universidades como professor formado? A resposta, para mim, é clara: numa dialética algo de novo e bom deve surgir. As universidades devem considerar os contextos educacionais das escolas, bem como é importante o diálogo com os cursos de formação de professores que possuem muito a aprender com a escolas e suas realidades educacionais.

 

Mas o que temos em termos de ensino de História Antiga nas universidades? Os professores que assumem as áreas são normalmente os responsáveis pelo estabelecimento das disciplinas e seus nomes, estabelecimento de ementa e bibliografia básica e compra de livros para as bibliotecas. Desta forma, a primazia por algumas áreas de interesse pode aparecer, como o interesse mais acentuado por áreas/textos que correspondam aos seus objetos de pesquisa. A ideia de propiciar uma formação em História Antiga existe, claro, porém interesses na construção dos planos de ensino dos cursos de História podem ocorrer.

 

Um outro ponto a se considerar, que possui relação com o que se ensina numa licenciatura em História, é a questão da especialização do professor/pesquisador. No ensino superior, a realidade é a de professores que entre a graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado se especializaram em determinadas áreas a ponto de, embora tenham conhecimento até amplo sobre a Antiguidade como um todo (mas isso não é a regra) não necessariamente são capazes ou possuem interesse em ensinar sobre áreas que não tenham domínio mais aprofundado. Falando em termos gerais, um especialista em algum tema sobre Grécia antiga terá mais confiança ao tratar temas relacionados ao mundo grego, numa perspectiva melhor de Antiguidade Clássica do que ensinar sobre China ou Índia antigas, por exemplo, e vice-versa.

 

Para finalizar, quero pontuar algumas considerações para concordâncias, discordâncias, sugestões, complementações e reflexões:

 

-O ensino de História Antiga possui uma relação direta com aquilo que se compreende por Antiguidade, que pode afirmar amplitude ou recorte a depender da percepção do conceito de História Antiga;

-O ensino de História Antiga tem sido problematizado de forma a atualizar a forma como se entende a História Antiga no tocante a possíveis relações entre passado e presente, observando-se formas de uso desse passado antigo em outras temporalidades;

-A forma como o professor na Educação Básica trabalha com a História Antiga possui diversos fatores de influência, que por vezes fogem ao seu controle, todavia, a depender de sua formação e criatividade ele pode ensinar História Antiga de forma a incentivar este conhecimento;

-Entre a Educação Básica e o Ensino Superior deve existir diálogo e pesquisa, para que seja possível um melhor ensino de História Antiga, que considere sempre as realidades diversas em que cada professor está inserido;

-A forma como o professor no Ensino Superior ensina a História Antiga também possui determinantes e estes têm relação com a especialidade do professor que pode fazer determinadas opções por áreas de interesse ou não.

 

Para concluir, cabe afirmar que, sobre o Ensino de História Antiga os professores entre Educação Básica e Superior são os verdadeiros construtores da área, incentivadores ou não do seu desenvolvimento e valorização social. Desta forma, cabe a quem forma os professores o engajamento para que se construa uma História Antiga engajada em valorizá-la e fomentar os estudos de temas a ela relacionados, de forma a fazer crescer em importância esta ampla área e com temas tão instigantes e relevantes em nosso presente, para a compreensão do mundo em que vivemos.

 

Referências biográficas

Dr. Leandro Hecko, professor de História Antiga, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas – MS. E-mail: leandro.hecko@ufms.br

 

Referências bibliográficas

ASSUMPÇÂO, Luis Filipe Bantim de; CAMPOS, Carlos Eduardo da Costa. O livro didático e o Ensino de História Antiga – desafios no presente e problemas do passado. Perspectivas e Diálogos: Revista de História Social e Práticas de Ensino, v. 2, n. 6, p. 66-87, jul./dez. 2020.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.

 

HECKO, Leandro (org.). Antiguidades e usos do passado. São João de Meriti: Desalinho, 2019.

 

HECKO, Leandro; PUGA, Dolores. A História Antiga nos manuais didáticos: horizontes de expectativas. In: SQUINELO, Ana Paula (org.) Livro Didático e Paradidático de História em Tempos de Crises e Enfrentamentos: Sujeitos, Imagens e Leituras. Campo Grande: Life, 2020.

 

SILVA, Glaydson José da. História Antiga e Usos do Passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944). São Paulo: AnnaBlume, 2007.

 

SILVA, Semíramis Corsi. Aspectos do Ensino de História Antiga no Brasil: algumas observações. Alétheia: Revista de estudos sobre Antiguidade e Medievo, Volume 1, Janeiro a Julho de 2010.

36 comentários:

  1. Bom dia Leandro excelente texto, o que me interessou foi à dialética entre formação de professores e políticas educacionais encontradas nas escolas, e qual deveria influenciar qual respondida no seu texto. Meu questionamento fica em como conciliar essa dialética quando não se sabe qual a “escolha” de ensino superior o aluno que ainda está no ensino médio irá percorrer, a ideia de aprofundar em temas que não iriam corresponder para um provável estudante de medicina, mas seria interessante para um futuro aluno de História parece conflitante. Como resolver o conflito de conteúdos estudados que guiaram a escolha dos estudos pós-ensino médio envolvendo os ensinos de História Antiga ou o senhor considera os estudos de Antigas essenciais para qualquer formação acadêmica?
    Tiago Rezende Lopes

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    1. Saudações Tiago! Primeiramente, grato pela leitura do meu texto. Bom, vamos lá, ver se entendi sua questão e vou tentar responder ou, quem sabe, ampliar o problema. A questão para mim evoca: como preparar um professor para um contexto desconhecido onde não saberemos o que encontrar em termos de trajetórias dos alunos? Formamos, no ensino superior, professores que trabalharão com públicos diversos, inclusive alunos na Educação Básica que não gostam de História ou a julgam desnecessária para a sua formação posterior no caso do ingresso em alguma faculdade para a qual, supostamente, o conhecimento histórico é insignificante. De minha perspectiva e considerando minha trajetória, vejo o seguinte: tive uma formação geral na universidade que buscava me fazer pensar sobre o sentido do ensino de História, sobre a importância do conhecimento histórico para a vida; depois de formado, enquanto professor, atuei no ensino público do estado do Paraná e tive experiência ao trabalhar rapidamente com cursinhos pré-vestibulares; também trabalhei na formação continuada de professores, atuando numa Secretaria de Estado da Educação, quando aumentei meu interesse pela área de ensino e acabei refletindo mais sobre, por exemplo, a questão da consciência histórica no processo educacional. Considerando estes itens e essa experiência, eu acredito ser de extrema importância, independente da carreira que os estudantes da Educação básica queiram seguir na graduação, que passar por uma formação histórica é importante. E aqui, além claramente de defender um melhor ensino de História Antiga, devo defender um ensino de História humanizado, sensível, que aborde os temas mais diversos da História, desde os percebidos numa História vista pelas temporalidades (Antiga, Medieval, Moderna, Contemporânea), a uma História mais próxima em termos de realidade circundante (América, Brasil) a uma História Temática (Cultura, Trabalho, Poder, Indígena, Afrobrasileira, das Mulheres, Diversidade, etc). Acredito, por fim, que a formação do pensamento histórico é de extrema importância para qualquer área de saber, pois historicizar o mundo é melhor entende-lo, melhor lidar com as realidades diversas, evitar negacionismos e, inclusive, evitar emitir opiniões sobre o passado sem o mínimo de conhecimento e entendimento deste. Logo, lutemos pelo ensino de História.

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    2. Explicação perfeita Leandro, muito obrigado por responder minha duvida, me sinto mais empolgado em pensar em um currículo de ensino que possa realizar esse importante papel de historicizar o mundo para melhor compreende-lo.
      Tiago Rezende Lopes

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  2. Boa tarde Leandro.

    Inicio dizendo que gostei muito das reflexões citadas no texto, e para um aluno da graduação e que possui um carinho especial pela Antiguidade e pelo Medievo, tais reflexões servem como um belo "combustível" à formação.

    Para a pergunta, gostaria que elaborasse neste ponto:

    "O ensino de História Antiga tem sido problematizado de forma a atualizar a forma como se entende a História Antiga no tocante a possíveis relações entre passado e presente, observando-se formas de uso desse passado antigo em outras temporalidades."

    Como exatamente o ensino tem sido problematizado? Ele possui uma acepção de História Antiga em um sentido mais global? Está mais focada nos aspectos de "história dos subalternos"? Ou seja, qual o tipo de visão de História que vem sendo adotada pelos profissionais da área para o combate à tradição escolar de História Antiga ainda muito forte?

    Marcos Gabriel Ruas Benedito

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    1. Bom dia Marcos! Muito obrigado pela sua leitura e pelo questionamento, que me faz poder desdobrar o tema que evocou!
      Vamos pensar, necessariamente, o ensino no recorte da área de História Antiga!
      Primeiramente, a própria área de História Antiga dentro da universidade tem se dinamizado e até as disciplinas que abordam estes tempos históricos (Antiguidade e Medievo) por vezes tem seus nomes “atualizados”. Se observarmos, por exemplo, só nos cursos de História de universidades federais, encontraremos diferentes nomes para as disciplinas que tratam da História Antiga e Medieval e não necessariamente apenas “História Antiga” ou “História Medieval”. Caso, ainda sejam os nomes tradicionais desta forma, um olhar atento às ementas, objetivos e bibliografia verá uma dinâmica que vai desde considerar uma historiografia base até incorporar no ensino perspectivas mais atuais, que tragam à toma aspectos mais recentes de teoria e pesquisa em História Antiga e Medieval. Eu gosto, por exemplo, de ver como a perspectiva de uma história global, a ideia de conexões e redes, o entendimento da história vista de baixo, a perspectiva dos subalternos, estão sendo incorporadas nos currículos acadêmicos tal qual observamos no âmbito das pesquisas. Pensando, por exemplo, na questão da História Antiga, temos o que? Basicamente, vemos Egito, Grécia e Roma, inseridos em um Mediterrâneo pleno de conexões, de nós estreitos em termos de contatos, comércio e influências culturais. Esta perspectiva já amplia a possibilidade de entendimento sobre o que ensinarmos. Há que pensar, por exemplo, neste mundo, na questão do glocal, o local inserido no regional e no global.
      Em segundo lugar, quando observamos a BNCC, há uma tentativa de se colocar em evidência essas perspectivas de entendimento sobre a História e suas relações espaciais em movimento de influências. Isso ocorre face à diminuição dos “conteúdos específicos” que antes eram elencados mais precisamente. Porém, cabe considerar neste caso que uma boa formação de professor de História pode ajudar no fato de um professor que ensine uma História Antiga mais problematizada.
      A questão é, então, no âmbito teórico, de refletir sobre a própria constituição do campo do Ensino de História, de suas intencionalidades, de uma valorização ou não do ensino de História presente nas políticas públicas e concepções curriculares. Hoje, cada vez mais, os professores devem ser engajados e lutar por suas áreas de ensino, justificar sua importância e mostrar o sentido de ensinar História, de desenvolver uma consciência histórica nos estudantes.

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  3. Olá Leandro,
    Na Educação Básica, o ensino de História Antiga acaba servido de passagem de uma história mais circunscrita a família e a cidade para uma história mais global. Isso é feito de forma abrupta na passagem do 5º para 6º ano, acompanhado muitas vezes de um mudança de professor polivante para professores formados em História. Para você isso traz algum impacto no ensino de história antiga e para a formação do/a discente? Quais seriam as alternativas?
    Abraços,
    Priscilla Gontijo Leite

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    1. Saudações Priscilla! Que prazer tê-la aqui e fico lisonjeado pela sua leitura e questionamento!
      Sua questão me transporta ao meu primeiro ano de magistério na Educação Básica. Terminei minha graduação, ingressei no mestrado e ao fim do mestrado já passei num concurso e fui para sala de aula, atuando, na época, da 5ª série do Fundamental até o 3º do Ensino Médio! Grato por evocar essas recordações!
      Lembro-me quando entrei na sala da 5º série (hoje 6º ano) e peguei uma turminha cheia de pequenininhos! Fui dessa turma o primeiro professor homem que tiveram, eram bem novinhos e estavam na idade/série correta pela estimativa. Quando eles abriam o manual didático que era adotado pela escola, tudo era novidade para eles! O manual trazia aquela breve “Introdução a História”, a temporalidade, as fontes históricas, enfim, muitas coisas novas. Depois disso, vinha um conteúdo de Pré-História e depois a parte de História Antiga (Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma)! Tanta novidade para seres tão pequenos! (risos) Neste contexto e sabendo o que se ensinava no Fundamental I, eu me perguntei: como vou ensinar tudo isso aqui a partir do que sei que eles já tiveram sobre História (Família, Bairro, Cidade e Região)? (mais risos, agora de pânico!) Pois bem, na época o que eu fiz? Respirei fundo e tentei partir do básico, para didatizar os novos conhecimentos. Tomei as discussões de tempo e espaço constantes no próprio livro e tratei de convidá-los a fazer uma grande viagem no tempo. Eu peguei um mapa global de História e uma baita cronologia, daqueles banners antigos ainda que a gente pendurava na lousa (apesar de ser recente, nem todas as escolas possuíam Datashow na época). Tratei de mostrar para eles qual era o lugar deles no tempo e espaço, saindo desde as suas casas, até o Brasil, a chegada dos portugueses, a Idade Média e...chegando, enfim, aos conteúdos que iríamos trabalhar, mostrando a diferença espaço-temporal com a qual iríamos trabalhar e, ao mesmo tempo, tentando fazer com que não perdessem este vínculo deste passado distante consigo. Quando eu queria mostrar vínculos, eventualmente eu trazia a tona desenhos animados ou filmes, para mostrar que por mais distantes que estejamos do passado, fomentamos um enorme interesse pela História dos povos mais antigos do Mundo. Priscilla, é um grande exercício para nós pensar em como ensinar tudo isso, não? Por isso, as experiências de ensino desde a graduação são importantes, com os estágios obrigatórios, com o PIBID ou Residência Pedagógica, com educação patrimonial/museal, enfim...temos que ir aprendendo a construir estratégias para ensinar as coisas mais difíceis com as quais lidamos pensando em públicos não acadêmicos. E, cada vez mais essa habilidade de ensinar História em qualquer lugar será uma habilidade cobrada de nós! Enfim, são meus comentários básicos diante de minha experiência. Eu fiquei 5 anos atuando na Educação Básica (fundamental e médio) e considero esta experiência como extremamente importante para o professor (na universidade) que me tornei. Isso me ajuda muito em sala, em orientar os estágios que oriento, nos projetos que desenvolvo e me ajudou enormemente quando fui coordenador de área do PIBID. Espero ter respondido a sua questão. Obrigado.

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  4. Anderson da Silva Schmitt25 de maio de 2021 às 14:56

    Olá Leandro
    Parabéns pelo seu texto, tenho muitas coisas para perguntar então vamos por partes.
    Como já foi mencionado pelos colegas nos questionamentos acima, como achar uma forma para se trabalhar a base do conhecimento histórico (Idade Antiga) em menos de um ano no ensino fundamental, com a nova estrutura da BNCC o 6º ano virou um amontoado de conteúdos onde o aluno não tem maturidade para alguns temas, ainda mais nessa correria de conteúdo, afinal no 6º vamos da introdução da disciplina até a idade Média, não vejo como trabalhar dessa forma? Qual a sua opinião sobre esse acumulo de temas no 6º ano?
    Outro ponto é que o currículo das universidade não se encontra de acordo com a BNCC, o que poderia ser feito a respeito na sua opinião?
    Abraço

    Anderson da Silva Schmitt

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    1. Boa tarde Anderson!
      Sim, a coisa é complicada!
      Se fizermos algumas contas mórbidas, quanto temos de carga horária para o 6º ano? Carga horária anual, coisa de 80h, em torno de 20 por bimestre, considerando 4 bimestres!
      Pois bem: consideremos que o livro didático tem em torno de 200 páginas, entre conteúdos e atividades.
      Consideremos ainda, os contratempos que o professor encontra em sala, mais a carga horária para avaliação!
      Pois bem, o que temos é pouco tempo para muitos conteúdos, de forma que acabam sendo trabalhados atropeladamente, em tópicos resumidos.
      Considerando História Antiga e Medieval são ainda milhares de anos de História trabalhados!
      Outro ponto: o professor possui prazos a cumprir! Logo, correr com o conteúdo.
      Outro ponto: os livros didáticos continuam conteudistas, adaptando seus conteúdos às linhas propostas pela BNCC.
      Novamente, como driblar tudo isso? Acaba caindo na responsabilidade do professor, ter ou não sucesso no seu trabalho!
      Não tenho uma resposta fechada para isso!
      E na universidade? A partir de 2018, passamos a cobrar que os acadêmicos tomem conhecimento da BNCC para buscar formas de entender sua adaptação ao contexto escolar, já que o cumprimento às políticas públicas que a BNCC representa é algo com o que temos que lidar.
      De fato Anderson, nem na Educação Básica (onde o professor dá aula de toda a História da Humanidade) nem na universidade (entre especialistas em áreas) somos capazes de um sucesso total. Seguimos na luta!

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  5. Boa tarde Leandro. O ensino da antiguidade oriental é, no mínimo, deficiente em nosso país. Atualmente o conhecimento sobre os povos mesopotâmicos e Egito demonstra que parte razoável do corpo do conhecimento da antiguidade clássica deriva do oriente próximo. Não estaria essa deficiência ligada à tentativa de valorização das realizações do mundo grego romano, posto como “ocidental”, em detrimento das realizações de povos do oriente médio?

    Alexandre Black de Albuquerque

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    1. Saudações Alexandre!
      Sim, ainda somos muito centrados no mundo greco-romano! Porém, acredito que no ensino superior estão surgindo especialistas que terão muito a colaborar no ensino da Antiguidade Oriental (inclusive indo para o Oriente “distante”, em oposição e complementaridade ao “Próximo”). Já temos na academia um histórico de bons especialistas em Egito, Mesopotâmia, China, Índia (entre outras áreas) que muito estão contribuindo!
      De fato, vejo que ainda há muito que se desenvolver ainda, porém, temos um horizonte de expectativas junto ao surgimento de novos especialistas e de formas distintas de divulgação do conhecimento histórico em outros espaços (museus, virtuais, canais de redes sociais) que podem, aos poucos, ir melhorando este aspecto que levantou na questão.
      Hoje, por exemplo, se acessamos o Youtube em busca de canais ou vídeos específicos sobre Antiguidade Oriental, vemos muito conhecimento acadêmico sendo socializado, vemos professores universitários tentando se aproximar de distintos públicos divulgando suas pesquisas e produzindo conteúdos!
      Enfim, este é um aspecto no qual a tecnologia da informação e comunicação muito nos ajuda!
      Obrigado!

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  6. Olá professor Leandro Hecko, parabéns pelo texto, excelente!

    Por diversas vezes eu me vejo questionando se o 6° Ano é realmente a etapa ideal para se ensinar História Antiga, devido as temáticas abordadas, a distância espaço-temporal da nossa realidade, etc. Nesse sentido, será que a forma como a BNCC propõe o ensino de História Antiga não a limita demasiadamente, dado que o professor se vê obrigado a trazer um conteúdo que seja adequado a crianças de 11-12 anos?

    Dalgomir Fragoso Siqueira

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    1. Bom dia Dalgomir! Grato pela questão! No âmbito do Ensino de História temos a influência da divisão quadripartite, baseada em uma linha cronológica que acaba também nos colocando numa História de lá para cá, da África/Ásia/Europa para as Américas. Na idade de 11-12 anos os alunos já possuem um capacidade cognitiva para lidar com as diferenças temporais e espaciais, mas de fato, além disso, é muito conteúdo para assimilar em pouco tempo.
      Há alguns anos, quando atuava na Educação Básica, os alunos tinham contato com História Antiga e Medieval na 5ª série do Ensino Fundamental (era assim que estava organizado o nome) e depois no 1º ano do Ensino Médio. Isso dava uma boa possibilidade de retomar os conteúdos com as crianças já mais amadurecidas, na adolescência.
      Outro ponto é: existem livros que trabalham com História Temática e organizam os conteúdos de forma diferente. Não obstante, os livros mais escolhidos pelos professores no processo do PNLD ainda são os de uma divisão mais tradicional da História.
      Por fim, no trabalho do professor, a lida com os alunos, uma avaliação diagnóstica, compreendendo como os alunos estão em termos de compreensão da história e do pensamento histórico, pode auxiliar no desenvolvimento das aulas. A didática do professor será, neste caso, uma importante ferramenta para driblar possíveis problemas de ensino e aprendizagem em História. Obrigado.

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  7. Olá, Leandro, a principio gostei muito do texto, e queria fazer uma pergunta relacionada a um trecho dele.

    " A forma como o professor na Educação Básica trabalha com a História Antiga possui diversos fatores de influência, que por vezes fogem ao seu controle, todavia, a depender de sua formação e criatividade ele pode ensinar História Antiga de forma a incentivar este conhecimento;"

    Quando o senhor fala em "incentivar esse conhecimento" entendo que você se refere as metodologias utilizadas em sala, para você qual a melhor forma de incentivar e de proporcionar um ambiente onde os alunos possuam interesse e curiosidade em aprender história antiga?

    Rafaela Lima de Souza

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  8. Boa noite Rafaela! Vou responder objetivamente esta questão: acredito que um bom caminho seja partir de um ensino de História Antiga que parta de uma mostra dos usos do passado que são feitos das Antiguidades. Os alunos assistem filmes, séries, leem HQs e jogam diversos games que remetem às Antiguidades. Um caminho, sem dúvidas, pelo menos para iniciar o ensino é partir das realidades deles, do conhecido ao "desconhecido". Porém devo considerar, além disso, o que posso aprender observando o que os professores fazem em sala, com certeza eles podem também me ensinar sobre isso, sobre como fazem. Grato pela questão e pela leitura.

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  9. Boa Noite. Parabéns pelo texto, gostei bastante, achei bem explicativo e interessante. Em geral estudantes do ensino básico, principalmente 6º ano do fundamental, ao estudar historia antiga, costumam demonstra mais interesse em aula mais elaboradas, com filmes e dentre outros, essa forma de ensino pode influenciar bem mais na educação dos mesmos do que sempre ter aulas apenas pelo livro didático? até pelo fato de terem apenas 11 ou 12 anos de idade, pois pode facilitar na aprendizagem dos estudantes?

    Carla Cristina de Jesus Raposo

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    1. Bom dia Carla! Sim, os alunos possuem uma visão sobre o livro didático e, acredito, ao mesmo tempo que ele é útil, por vezes o primeiro livro que o aluno possui, ele deva se modificar! Hoje já existe livro didático eletrônico, com links que levam o aluno a sites, vídeos, músicas e imagens, enfim, confere ao material didático uma maior dinâmica, colocando vida a outras linguagens para o ensino de História, por exemplo. Mas, são iniciativas que ainda não fazem parte de escolas públicas, são oriundas da iniciativa privada, mas mostram caminhos existentes. Há experiências, portanto, da utilização de um material mais dinâmico. Porém, isso cria necessidade de estrutura informática: conexão com internet, tablets, assessoria em TICs para professores, enfim...mas creio que é o caminho de parte da renovação. Sobre a questão de aulas mais elaboradas, sim, concordo! O professor tem que buscar estratégias para dar vida ao conteúdo com o qual tem que trabalhar e explorar diversas linguagens com as quais os alunos estão mais acostumados pode ser um primeiro passo: filmes, imagens, memes, jogos eletrônicos, séries, HQs, enfim, podem ser excelentes pontos de partida para se trabalhar com o conteúdo da História Antiga. Obrigado.

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  10. Boa Noite. Sabe-se que os processos educacionais tais quais os seus currículos sofrem interferência externa, sendo assim o que pensa do ensino de história antiga que se faz presente no sistema educacional brasileiro, tendo em vista a simplificação dos conteúdos que acontece?

    Loyani de Souza Santos

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    1. Bom dia Loyani! Além de diversas influências que insinuei no texto, sim! Existe interferência externa pelos mais variados motivos, dos quais, por vezes, a questão econômica pode ser posta em evidência! Bons índices educacionais, internacionais, garantem que haja vínculos ou possibilidades financeiras para o Brasil. É um assunto o qual não domino, porém, basta observarmos como a BNCC foi construída, os processos de consultoria, instituições por trás da elaboração, enfim, para nos questionarmos sobre outras influências! Por outro lado, vejo também que manter um país com uma Educação de qualidade ruim pode servir a poderes econômicos e políticos, na manutenção de uma dominação em relação a países mais “desenvolvidos”! É um caminho para reflexão, também, Loyani. Obrigado.

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  11. Boa tarde! Excelente texto professor Leandro Hecko!
    Você faz um percurso de ida no ensino fundamental e de volta no ensino universitário para indicar alguns problemas no currículo de história antiga. Contudo, você não indica um problema no vestibular que influencia diretamente na forma como professores irão ministrar seus cursos de história antiga.Como você se posiciona diante dessa questão, no qual, majoritariamente se cobra em vestibulares apenas Grécia e Roma?
    Atenciosamente
    Álvaro Ribeiro Regiani

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    1. Bom dia Álvaro! Grato pela leitura e questionamento! Sim Álvaro, concordo contigo que o vestibular se configura outro problema, já que também dita o que é importante ensinar de forma pragmática (pensando nos concursos vestibulares) sobre as Antiguidades! Eu acredito que essa cobrança, que normalmente é sobre Grécia e Roma, como prejudiciais e afirmadoras de olhares que remontam ainda ao século XIX como se essas civilizações fossem o “berço” ainda de uma cultura universal (vamos compreender, neste perspectiva, Ocidental ainda) europeizante. Concordo contigo e fica uma questão para nós: como mudar isso? Um caminho, talvez, seja por meio de intervenções institucionais: ANPUH, Governo Federal, Universidades...aí, cada caso é um caso! Obrigado.

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  12. Boa tarde, Leandro!
    Ótimo texto orientador para futuros professores e também para os já praticantes.
    Ao citar o método de trazer a antiguidade para reflexões da contemporaneidade, como seria possível que ao relacionar estes não ocorresse algum tipo de anacronismo? E sobre o pouco interesse sob o estudo da Antiguidade Oriental, é possível afirmar que se da também pela escassa representatividade em cinemas ou outras produções artísticas, que poderiam atrair os mais jovens sobre este estudo?
    Pietra Ida Leone Sol

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    1. Bom dia Pietra! Grato pela leitura e questionamento! Dentro da historiografia existem discussões sobre usos do passado em diversas perspectivas (recepção, apropriação, legado, releitura, etc) que podem auxiliar a discutir temas das Antiguidades numa relação passado/presente sem incorrer em anacronismos. Sempre temos que pensar que é o passado pensado à luz da contemporaneidade. Em relação à Antiguidade Oriental, pensando em Índia e China, de fato aparecem muito menos no cinema e outras mídias mais acessíveis dos alunos. Isso é ao mesmo tempo um elemento que denota a falta de interesse como, por outro lado, pode ser um caminho para nos questionarmos a razão desta exclusão. Faz muita falta uma visão global da História Antiga que aponte para relações entre Ocidente e Oriente, por exemplo, em vez de pensar em “civilizações” como se de fato elas fossem únicas e desconectadas de diversas outras ou com elas tivessem mantido algum tipo de rede. De fato, portanto, temos que amadurecer essa percepção do que ensinar em História Antiga, do que se ensina de da razão pela qual se ensina! Obrigado.

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  13. Boa tarde! Parabéns pelo texto professor Leandro. Minha pergunta é: como os professores poderiam trabalhar os conteúdos de História Antiga e formar alunos críticos e conscientes de sua cidadania em tempos onde somos tão perseguidos e gravados devido ao ensino remoto?

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    1. Bom dia Gizele! Uma questão muito difícil, concordo, para a qual não tenho uma resposta precisa, porém, digo algumas palavras: pensar o mundo Antigo nos ensina muito sobre política, sobre conceitos importantes para se pensar questões políticas no mundo todo, pensar imperialismos, formas de dominação e resistência. Neste caso, acredito, temos que ser profissionais engajados em nossas profissões e engajados na busca de uma Educação de qualidade (no público e privado) e uma Educação crítica sobre o poder e as instituições, tendo posturas combativas e éticas nas ações. E, em tempos difíceis, sempre temos que lembrar que “ninguém solta da mão de ninguém”! Seguimos na luta Gizeli.

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  14. João Pedro Furlan dos Santos27 de maio de 2021 às 19:05

    Boa noite, ótimo texto. Concordo plenamente com a necessidade de um diálogo maior entre a Educação Básica e o Ensino Superior, como graduando em uma licenciatura em História, consegui perceber claramente esta diferença que existe na abordagem da História Antiga. A minha pergunta é, na sua opinião, qual seria a melhor forma de promover este diálogo?

    João Pedro Furlan dos Santos

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    1. Bom dia João! Para a melhoria das ações sobre o ensino de História Antiga em busca de superar limites, eu acredito, que seja a abertura de possibilidades junto aos professores que trabalham nas áreas que correspondem a este segmento da História. De minha parte, percebo limites, entre carga horária, conteúdos e opções que tenho que fazer quando elaboro um plano de ensino. Nestes limites, tento complementar ações buscando a atuação em projetos de ensino, pesquisa e extensão que possuam alguma relação com a Antiguidade e atendam a públicos os mais diversos dentro e fora da universidade. Além disso, a construção de uma rede de colegas especialistas dispostas a eventualmente compartilharem suas experiências, mesmo que via remota, entre instituições, é também uma alternativa produtiva. Dentro de minha atuação, sempre que possível tento contar com a colaboração de colegas de outras áreas de especialidade e outras instituição na promoção de palestras e minicursos voltados aos meus alunos. Outra possibilidade também é estimular aos alunos para a participação de eventos da área de Antiga e Medieval, ampliando assim seus horizontes. Obrigado.

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  15. Prezado Prof. Leandro,
    Antes de mais nada, obrigado por compartilhar conosco o seu conhecimento!
    Nas oportunidades em que se abordam as antigas civilizações para além das mediterrâneas, tem-se a sensação de que, em geral, opta-se por estudar aquelas que, de uma forma ou de outra, guardariam certo vínculo com as bases de formação do chamado mundo ocidental (diga-se, europeu!). Um caso exemplar é o Império Persa: mesmo em vista da sua enorme distância geográfica (mais próximo do extremo oriente do que do ocidente!), há, positivamente, uma considerável dedicação ao seu estudo no contexto da educação formal; todavia, vem-nos à mente o fato de que, após o seu apogeu, a cultura persa passaria a integrar o império helenístico do (europeu) Alexandre da Macedônia. Ou seja, dar-se-ia atenção à antiga Pérsia por, talvez, ela ter sido um dos pilares do helenismo de origem europeia...
    Diante disso, encontramo-nos, então, neste momento, ainda longe de nos desvencilharmos do arcaico eurocentrismo, quando se trata de História Antiga?
    Att,
    Valmir Medina Riga

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    1. Bom dia Valmir! Interessante a sua perspectiva e, é possível que tenhamos interesse nos Persas por eles terem uma relação com os egípcios antigos, quando os “subjugaram” e, claramente, por terem relações conflituosas com os gregos, culminando no Império Helenístico. Concordo contigo que, nesta perspectiva, o eurocentrismo está por trás! (risos) Mas também vamos considerar esta relação e interesse como uma possibilidade de reflexão sobre o outro, na forma como propõe Hartog em seu “espelho”. E, concordo, estamos longe de escaparmos ao eurocentrismo, porém cada vezs mais a historiografia nos dá ferramentas para desconstrui-lo e melhorarmos nossa forma de ver e ensinar a História Antiga. Grato pela leitura e questão.

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  16. Leandro Hecko, ótimo texto. Eu, como graduando em História noto que Índia, China e o Extremo-Oriente em geral é descartado no ensino básico quando se fala em Antiguidade.

    Mas porque exatamente isso ocorre? Haviam nessas sociedades exércitos nos moldes das legiões? Pois as legiões se tornaram uma marca bastante ligada a Antiguidade. Na Idade Média, inclusive, As legiões caíram em desuso, sendo mais comum pequenas quantidades de pessoas, em geral montadas a cavalo.

    Acredito que um corpo militar sólido foi uma das coisas que caracterizaram a Antiguidade.

    Alexandre Silveira de Amorim, graduando em História do 6º período pela UFRPE.

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    1. Bom dia Alexandre! Sim, é descartado na Educação Básica e, por vezes, no superior, já que ainda são raros os especialistas dentro dos cursos de graduação em História! Acredito, porém, que o Brasil tem se desenvolvidos em termos de formar especialistas, já que estão aparecendo pesquisas em mestrado e doutorado sobre essas áreas! Interessante sua perspectiva Alexandre! De fato, há um interesse tão grande pela beliculosidade na História, não? Por qual razão deixar de lado, então, este extremo oriente? Ideológica? Não tenho subsídio para uma resposta precisa, porém, acredito que falta por nossa parte uma sensibilidade em ler o Oriente e aumentar nosso interesse e compreensão em relação ao outro. Grato pela leitura e questionamento.

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  17. Antiguidade é um tema que eu tenho muito apresso, gostei muito de ler sobre o assunto, e realmente devemos refletir sobre formas de repassar o ensino da história antiga, quando olhamos nossa sociedade moderna é notório que a história antiga deixou suas raízes, seja na cultura, arquitetura e nos livros da atualidade, pensando nisso é possível trazer um ensino moderno para o aluno sem perder a essência do ensino?

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    1. Bom dia Calebe! Grato pela leitura e comentário! De minha parte, acredito que o estudos das civilizações Antigas do mundo todo é uma questão de cultura, de erudição e necessidade de entendimento do mundo! Só isso já deveria justificar seu estudo! Porém, em tempos de um “pragmatismo exacerbado”, temos que afirmas a extrema necessidade de entender os antigos para pensar sobre nosso lugar no mundo, sobre nossa própria insignificância! Assim, pensar nos usos do passado, nos “legados”, nas “heranças” parece ser um caminho de aumentar as justificativas sobre os estudos das Antiguidades.

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  18. Boa noite, Leandro. O texto que você explanou, mostrou a realidade que existe entre os dois tipos de Ensino - o básico e o superior. Abordando o básico como o ensino no qual o educador necessita buscar ferramentas, ideias no ensino, que tragam o aluno para o centro da explicação da disciplina a ser ministrada. Em relação ao Ensino Superior o ministrante da disciplina, já não sente tamanha dificuldade em procurar explicar o conteúdo, porque o aluno possui um certo conhecimento sobre os assuntos a serem explanados no decorrer da aula.
    Parabéns, pela explicação do texto, foi formidável.

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  19. Boa noite, Leandro. O texto que você explanou, mostrou a realidade que existe entre os dois tipos de Ensino - o básico e o superior. Abordando o básico como o ensino no qual o educador necessita buscar ferramentas, ideias no ensino, que tragam o aluno para o centro da explicação da disciplina a ser ministrada. Em relação ao Ensino Superior o ministrante da disciplina, já não sente tamanha dificuldade em procurar explicar o conteúdo, porque o aluno possui um certo conhecimento sobre os assuntos a serem explanados no decorrer da aula.
    Parabéns, pela explicação do texto, foi formidável.

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